O aumento do populismo na Europa, agravado pela crise económica, esteve ontem em destaque na Universidade de São José. Violaine Delteil, professora assistente na Universidade Paris 3 Sorbonne Nouvelle, proferiu uma palestra para explicar como a falta de compromissos sócio-económicos tem contribuído para o reforço deste tipo de movimentos, mais ligados à extrema direita. A docente defendeu, por isso, uma maior reflexão sobre justiça social na Europa e noutros países.
Em declarações à Rádio Macau, Violaine Delteil afirmou que, hoje em dia, as pessoas não se sentem representadas, estão frustradas, porque, tanto os governos a nível nacional, como a União Europeia, não têm sabido dar resposta a certas aspirações. “Por exemplo, alguma preocupação sobre justiça social ou sobre o aumento das desigualdades não é tida em conta pelos políticos a nível nacional e europeu. A questão das desigualdades é um ponto forte que não é, de forma alguma, tratado pela União Europeia nem pelos Estados membros”, disse.
Segundo a académica, a actual crise económica e financeira veio agravar o problema, já que deixou os países com menos margem de manobra para financiar programas de apoio social. Bruxelas também tem falhado e há problemas que não são de hoje, diz Violaine Delteil: “Desde que a União Europeia introduziu o Euro, o mesmo dinheiro passou a ser usado por países com níveis de competitividade diferente. E desde então que tem sido muito difícil para os países mais pequenos, menos competitivos , encontrarem um lugar nesta corrida.”
Violaine Delteil defende, por isso, que é necessário aperfeiçoar a democracia social, ou seja, “o canal que vai ligar as pessoas aos políticos e às decisões políticas”. “São necessários mecanismos intermédios, mas também precisamos de novas formas de diálogo social entre os diferentes grupos de interesse na sociedade. Isto é muito importante. É um desafio a longo prazo e, claro, a questão da crise económica não está a contribuir para uma reflexão mais ponderada sobre esta matéria”, explicou.
Para a docente, o populismo coloca as perguntas certas, mas produz as respostas erradas. Um dos grandes perigos, argumenta, é diabolizá-lo, ou seja, “não olhar para ele como um sintoma de algo muito mais importante e grave, que está relacionado com a frustração da população”. “Talvez a palavra ‘populismo’ seja errada, porque é usada por peritos e políticos mais clássicos não apenas para criticar partidos de extrema direita, mas também para não compreender que, por trás disso, estão algumas reivindicações, a meu ver bastante legítimas, por parte da população”, argumentou.